Júnior foi um aluno relativamente bom, mas parou de estudar na sétima série, preferiu trabalhar e ajudar na sua casa que era ele, uma irmã mais nova, pai e mãe. Dos treze aos dezesseis anos trabalhou de office boy numa advogacia no centro de São Paulo e só saiu de lá para ganhar mais como auxiliar de escritório numa metalúrgica em Guarulhos, lá trabalhou numa boa por um ano até que um dia...
Sumiu um pacote contendo dois mil reais que iria ser parte do vale dos funcionários naquele dia 20 de agosto. Ninguém o acusou diretamente e nem podiam provar nada, mas todos mudaram de atitude junto a Júnior, só podia ser o favelado que roubou o dinheiro e duas semanas depois do fato ele foi despedido.
Saiu de consciência tranquila e revoltado, seria injustiçado mas nunca um cagueta, só ele viu quando a secretária Simone, que é de confiança do patrão, pegou o pacote e voltou do almoço sem ele.
(Alessandro Buzo. "Tentação")
A literatura marginal dá uma voz àqueles que não tem voz: os oprimidos, os desfavorecidos, os pobres, os mal representados - enfim, os favelados. Muitas vezes, as pessoas que são instruídas e formadas são justamente aquelas que mantêm preconceitos negativos sobre a classe baixa. E por isso que Ferréz compilou essa coletânea de literatura marginal.
E interessante porque no conto "Tentação", é o Júnior que tem um senso de honra e dignidade. Ele considera o ato de delatar uma colega uma coisa sem honra e ele mantém seus princípios, mesmo que ele seja despedido. Já que o Júnior é o favelado, muitos acham que ele deveria ser aquele que não tem bússola moral. Mas são os outros que mostram que não têm valores: a Simone rouba dois mil reais, mesmo tendo a confiança do chefe; o chefe manda Júnior embora, mesmo que não tenha prova de que Júnior está culpado.
Muitas pessoas não conseguem enxergar a vida do perspectiva do Júnior e por isso esse conto é importante.
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