– Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã…Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
– É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
– Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – À minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. – Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
– Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja– disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda –, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
– É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
– Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – À minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. – Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
– Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja– disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda –, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
(Venha ver o pôr do sol – Lygia Fagundes Telles)
Eu acho essa passagem interessante por causa das ideias que Ricardo tem. Ele acha que a melhor morte é a morte esquecida. Se você se lembra da pessoa morta, ela ainda está viva de um certo sentido. Mas, se você se esquecer da pessoa, você não sente saudades e pode continuar com sua própria vida. De acordo com ele, os mortos devem descansar em paz e os vivos devem viver sem se preocupar com aqueles que já passaram para o outro lado. Se os mortos deixam de existir na memória dos vivos, eles ainda existem? Esse diálogo serve para iluminar os pensamentos sinistros desse personagem e prefigurar o destino horrendo da Raquel. No fundo do sepulcro, ninguém pode ouvir seus gritos. Ricardo quer que ela seja esquecido da mesma forma que ela se esqueceu dele, ficando com outro namorado rico.
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