sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dependência das cores

— É aqui onde se cozinha o açúcar. Vamos agora para a casa de purgar.
Dois homens levavam caçambas com mel batido para as formas estendidas em andaimes com furos. Ali mandava o purgador, um preto, com as mãos metidas na lama suja que cobria a boca das fôrmas. Meu tio explicava como aquele barro preto fazia o açúcar branco. E os tanques de mel-de-furo, com sapos ressequidos por cima de uma borra amarela, deixaram-me uma impressão de nojo. 
( José Lins do Rego.  Menino de Engenho, 34.)

Esta passagem me fez pensar no livro Invisible Man, escrito por Ralph Ellison.  Assim como na fábrica de tintas naquele livro, no engenho, o branco depende muito do preto, tanto em termos da mistura de tons no açúcar quanto em termos da composição racial da força de trabalho.  Porém, o engenho nega essa dependência na apresentação final do seu produto.  A cor de branco não pode existir sem a de preto e vice versa.  O engenho não consegue alcançar seus fins financeiros sem subverter os negros a serviço dos brancos e é através da comparação com os negros que os brancos criam sua própria identidade.

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