sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O presente

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade)

Muitas pessoas gostam de escapar da realidade através de filmes, livros ou até jogos de MMORPG como "World of Warcraft".  Mas Carlos Drummond de Andrade não vê a necessidade de especular sobre o futuro ou viver num mundo de "entorpecentes" e "serafins" porque, para ele, a realidade basta; é muito maior que qualquer mundo fantástico; é "enorme".  Por meio da repetição da palavra "presente", Andrade ressalta a importância de focalizar na vida atual e nutrir o potencial latente de nossos semelhantes.  Ele está tão fascinado com a vida real que se sente cativado.  A solução não é afastar-nos dos desafios que nos enfrentam, mas sim, trabalhar juntos para melhorar o presente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário