quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vou voltar

...
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar
(Tom Jobim e Chico Buarque.  "Sabiá", 17-35).

Quando eu li este poema, eu não sabia que era a letra de uma música.  Mesmo assim, percebi que essas linhas possuíam um ritmo muito forte.  As palavras "vou voltar" se repetem oito vezes no poema e cada vez que leio essa frase, a batida das três sílabas me faz pensar em alguém marchando, dando três passos resolutos para frente:  vou-vol-TAR.  vou-vol-TAR.  sei que ainda vou-vol-TAR. 
A músca, porém, é muito mais suave e bamboleante, dando a impressão de alguém que acredita que vai voltar para seu amado lar um dia mas não sabe se realmente quer chegar lá.   Ele emprega um oxímoro: "Fiz de tudo e nada / De te esquecer", sugerindo que ele não tem certeza que a terra da sabiá ainda seja um paraíso.  Outros exemplos de paradoxo como deitar na sombra de uma palmeira que não existe mais e colher flores que não existem mais mostram que talvez o seu lugar tenha mudado bastante durante sua ausência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário